Ás vezes sou levado por um furor criativo que não pode ser detido por nada. A coisa acontece mais ou menos como um prazer sexual explosivo: vem como um relâmpago e atinge a árvore sem parar em nenhum obstáculo.
Esse relâmpago, furor, tesão, não pode ser classificado, ele cai - nunca duas vezes no mesmo lugar, e consegue me tirar do mundo real. É criatividade encarnada, berro de vontade em escrever e ler.
Vou para outro mundo, aquele dos sonhos, dos prazeres; onde sou bonito, forte, inteligente, desejado; nesse mundo, sou o rei dos cegos! É verdade, não faço mais parte desse mundo, sou uma criação do Vazio, do Nada, sou um onírico dentro das vicissitudes de um medo incorrigível.
Algumas vezes, esse medo é extravasado pelos poros, como um suor incessante que cai de meu rosto na forma de palavras sem sentido, com um jeitão de rimas e poesias, já houve elegias e trovas que me tornaram um cancioneiro da solidão.
É engraçado perceber o que as pessoas não enxergam. Que o céu não é azul, que o certo não é errado, e que a soma de dois e dois é cinco, só porque esse é o nome daquela quantidad: por convenção a soma de dois e dois não recebeu o signo “cadeira”.
O medo. É o medo que prende nossas pernas, segura nossas mãos e impede nossos lábios de dizer “te amo”.
Engraçado, os antigos acreditavam que Júpiter era seu mais poderoso deus, com seus relâmpagos e trovões. Mas eles não passam de uma representação do medo. Seu maior deus deveria ser Athos, o medo.
Agora eu caminho, uma senda impenetrável, inviolável, da pureza da solidão, onde meus sonhos são meus, onde meus desejos são meus, e os prazeres podem ser nossos.
Eu caminho essa trilha...e não tenho medo dela...
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