Teatro de Deus

Ele era só esquecimento.


Um borrão no meio do tempo, que caminhava com passos largos pela pista de dança, num ritmo que só sua alma entendia. Era, por si só, um desejo de leviatã, colocado na Kabalah como um favor a Deus.

Deus.

Este. Aquele. Outro. Alguém. Imagem refletida no espelho uma centena de vezes, afogando-se em fés e crenças num futuro que jamais chega. Ele. Criador. Desejo. Criação. Criatura. Deus. Senhor. Assim na terra como no céu. Um borrão, repetido em palavras já usadas anteriormente, mas nunca gastas pela voz do poeta. Mesmo que este, em sua infinitude, se esqueça da outridade.

Era domingo. E o rapaz cruzava a pista de dança sem tirar os olhos da moça, fechando-se em si mesmo, recitou o cânone. Sem saber o que fazia.

Deus.

Palavra ingrata, suja, limpa, onipresente. Estivesse onde estivesse, confusa no tempo como a mácula de cem mil imperadores. Palavra que lhe fazia mal. Era demônio, anjo, terra, barro, homem.

E, no sexto dia, disse: Que se faça a luz!

Vendo que aquilo era bom, Deus o imitou.

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