O laço do Diabo.

Conta-se que desde há muito que havia lá pras bandas de acolá uma maldição ancestral da qual nunca ninguém soube ao certo definir, mas todos a conheciam como o laço do diabo. Enquanto andava com os anciães em sua terra natal, se fez saber da engenhosidade dele. E ninguém nunca viu, ninguém nunca sentiu, porém ninguém tinha dúvidas. Três mancebos partiram em busca da verdade, já bem longe e cheios de si adentraram a mata densa onde a fauna e a flora os saudavam e lhe davam os pêsames. Tudo foi muito bem arquitetado deveras. E assim foi.
Depois de tudo alcançaram uma clareira, lá estavam dispostas grandes quantias em sacos de pano amarrados com barbante e baús de pratarias antigas mas ainda valendo muitas recompensas. Tudo ali, como que escondido por alguém outrora, em tempos de perseguição e/ou assalto de consciência. E não tiveram dúvidas. Rapidamente deliberaram um a regressar ao povoado dando-lhes as boas novas, incubiram-no também de trazer da melhor cachaça, para que se deleitassem e festejassem seu novo estado.
Nunca talvez alguém se aproximou mais do que convencionou-se chamar de felicidade. O brilho nos olhos era tão intenso, o ritmo cordial a certeza do triunfo, o sorriso nos lábios... Afinal o desafio fora vencido e absolutamente nada tinha sido feito. Mas como?
Durante o regresso veio o coisa ruim ter com ele no mundo da mente. Pensou ia levar a cachaça sim mas devia de por veneno pra acabar de uma vez com a raça daqueles patifes sem vergonha. 'Tá pensando!? Como que eles delegam tarefa daquela pra um home feito que nem ele? Vai buscar, como se fosse empregado à sua livre serventia e não servia de mais nada. Na certa, iam fazer conceição e acertar tudo entre eles ficando ele sobrando com a menor parte. E assim o fez. Lá enquanto os dois faziam as repartições, tudo foi preparado para o receber, e assim o fizeram. Cada qual o puxou de um lado, e riram, e cantaram, e dançaram e foram muito felizes. Até que um o puxou de jeito e o outro após derrubá-lo no chão o golpeou na cabeça com força, e o atingiram de novo, e o mataram, para felicidade geral. Tudo seria uma festa. Riquezas, belezas e martírios, aos colonos diriam que o jovem perdeu a vida lutando em nome da amizade que os unia até minutos atrás. O corpo sem vida jazia ali e ali ficaria para ser esquecido. Viram quando a negra morte dele se apoderou e o levou para as sombras e para o reino da escura noite. Depois tiveram a idéia. "Ergo bibamus" tal qual disse Dioclecianus, imperador romano, caíram duros ao sentir o sabor do veneno ali colocado outrora pelo já defunto, se entreolharam e se arrependeram de tudo, mas já não havia mais tempo de nada, foram envoltos pelo laço do diabo. Eis tudo.

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