Uma ideia brilhante

Mas será o Benedito? Aquilo não acabava mais! Raios duplos! Quanta chateação...
Olhou para o lado mas a distração era rápida para não perder nem mais uma palavra. E já tinha perdido várias. Saco! Ela não para mais? Deixe estar.
A ideia inicial era um ditado. Deus castigue os ditadores. Eles não querem saber de você e te atropelam. Aqueles que se saem bem no ditado acabam arranjando um empreguinho de taquígrafo na prefeitura, ou com sorte vira escrivão em algum cartório imundo do interior.
E lá veio outra nota baixa quentinha saindo para o Pedrinho. Apesar disso era um menino inteligente mas aquela múmia de professora não tinha sensibilidade.
Durante a aula teve uma dúvida:
-Professora, por que o queijo suíço tem furinhos?
-Não sei menino! Não gosto de queijo e muito menos da Suíça.
-Se o caranguejo só anda de lado, como ele faz para ir pra frente?
-E eu é que vou saber? Que pergunta!
-Professora...
-Pedrinho, agora é a minha vez de fazer-lhe perguntas, por que não está fazendo a lição?
-Mas estou professora.
-Não estou vendo.
-É porque agora estou conversando com a senhora.
-Você não me engana. Já para lousa!
-Por quê?
-Porque eu quero!
-O que a senhora quer?
-Quero que estude.
-Por quê?
-Pra conseguir um emprego, se sustentar etc.
-Etc também?
-Chega Pedrinho! Que impertinência!
-Professora... Diz o menino sem jeito.
-Eu queria saber o que é etc...
-Etc significa muitas coisas, Pedrinho.
-Uma multidão pode ser etc professora?
-Quanta petulância Pedrinho! Não!
-Mas etc não é um monte de coisas?
-Não chateia Pedro...
E mandou a classe se preparar porque ainda naquele mês haveria mais um ditado, surpresa desta vez. O que irritava na professora era sua mente lunática e a ilusão de que todos eram rápidos como ela, magina! Mal dava tempo de respirar ou piscar os olhos. Pedrinho esforçado que era, pediu ajuda ao irmão mais velho para se preparar para o grande dia. Sempre atencioso, anotava as dúvidas e ia pedir explicações ao dicionário que tinha em casa. Memorizava com mais facilidade justamente as palavras cujos significados desconhecia. Usava um grande dicionário em seus estudos (diários).
Muitos dias depois quando nada acontecia e Pedro já até se esquecera das lições a professora informa:
-Ditado.
Em princípio teve medo, pensou em simular uma dor de barriga crônica, um desmaio, qualquer coisa para fugir do que estava por vir.
Não teve jeito.
Aos primeiros sons proferidos pela professora para serem imediatamente transcritos pelos alunos, que mais se assemelhavam à harpa do inferno, Pedro temia o branco, que poderia vir a qualquer momento. Podia ter um troço, um infarto fulminante tamanha era a pressão. Teve uma brilhante ideia e resolveu pô-la em prática antes que a esquecesse. Pouco a pouco a megera notava um sorriso que timidamente crescia no rosto do menino. Ela gostava de ditar palavras para testar a concentração dos alunos, na verdade não suportava barulho. Ao corrigir as lições à noite após a novela e bebendo café velho, leu a prova do menino, onde lia-se: carro, chato, gato, mato, rato, roça, viço etc...

Um comentário:

  1. Eu também não vou muito com a cara de "ditadores".

    É isso aí... gostei do conto.

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